1 de julho de 2011

Causas da Depressão

O século XX foi marcado por grandes avanços na compreensão dos quadros depressivos. Tais conquistas envolvem estudos sobre os neurotransmissores, a produção de fármacos anti-depressivos, o uso de recursos tecnológicos que favoreceram a neurociência e o desenvolvimento de teorias psicológicas e de técnicas psicoterápicas. Assim, foi se consolidando o entendimento sobre a co-existência de fatores orgânicos e psíquicos na depressão e, consequentemente, a associação entre remédios e psicoterapia nos tratamentos.


             No entanto, atualmente, ainda há divergências sobre a origem deste transtorno.  Seria ele orgânico, refletindo no campo emocional, ou psicológico, provocando alterações fisiológicas? Com base nas contribuições e pesquisas de ambas as áreas, é possível, de forma ponderada, compreender que as causas deste mal são diversas, sendo que em alguns casos a origem é psíquica e em outros a sua base é orgânica. É importante ressaltar que em qualquer situação a interação corpo e mente ocorre, tornando recomendável um olhar conjunto de médicos e psicólogos na construção de um diagnóstico que revele a verdadeira causa e aponte as diretrizes mais adequadas ao tratamento.

CAUSAS ORGÂNICAS
- Falha na neurotransmissão: A atividade cerebral se dá pela estimulação dos neurônios, através de impulsos nervosos, que se propagam de um neurônio a outro, mobilizando as diversas regiões cerebrais. Para que ocorra a transmissão do estímulo nervoso, uma substância chamada neurotransmissor flui por uma pequena lacuna existente entre um neurônio e outro, denominada sinapse. O neurotransmissor liberado pelo neurônio pré-sináptico liga-se a um receptor do neurônio pós-sináptico, fazendo com que este dispare um novo estímulo elétrico que fluirá em direção ao próximo neurônio da cadeia, dando continuidade à transmissão. Na fisiopatologia da depressão, observa-se uma falha na transmissão sináptica, sendo que alguns neurônios pós-sinápticos não disparam o impulso elétrico que daria continuidade à transmissão. Atualmente, considera-se que essa falha pode estar relacionada com a baixa quantidade de neurotransmissores nas sinapses, a presença de agentes bloqueadores, a presença de neurônios inibidores, a baixa sensibilidade neuronal e o pequeno número de receptores do neurônio pós-sináptico.

- Alterações hormonais: Entre os hormônios cuja alteração se relaciona com os sintomas de depressão, destacam-se os da tireóide (regulam o estado de vigília), o cortisol (reação ao estresse) e os sexuais (principalmente na TPM e na menopausa).
- Lesões cerebrais: A depressão pode ter origem na impossibilidade de algumas estruturas cerebrais executarem suas funções. Acidentes ou agressões que resultem em traumatismo craniano podem influenciar a ação de neurônios localizados no tronco cerebral. Nessa região, pode haver comprometimento da hafe, encarregada da produção de serotonina, e do locus ceruleus, que produz a noradrenalina, levando ao desequilíbrio neuroquímico que afetará a neurotransmissão.

- Substâncias químicas: No caso do uso de drogas, observa-se que no período de abstinência ocorre a redução das neurotransmissões que envolvem a dopamina e serotonina. Esse fato sugere a possibilidade de depressão no período em que o adicto se abstém do uso da substância. Entretanto, algumas drogas como a cocaína, podem provocar sintomas depressivos logo após o término do efeito estimulante. No caso do tabagismo, algumas substâncias presentes no tabaco, denominadas tiocianatos, causam o impedimento da captação de iodo pela tireóide, resultando no quadro de hipotireoidismo, relacionado com alguns casos de depressão. Sabe-se, também, que a abstinência da nicotina provoca sintomas como irritabilidade, ansiedade, rebaixamento do humor, distúrbios de sono e de apetite. Outra relação entre substâncias químicas e a depressão é o efeito colateral proveniente do uso de alguns medicamentos. Entre eles estão alguns esteróides, tranqüilizantes, sedativos, pílulas para dormir, pílulas para emagrecer, anti-histamínicos, diuréticos, antibióticos, antipsicóticos, anticonvulsivos, pílulas anticoncepcionais, antiinflamatórios, broncodilatadores, medicamentos para ansiedade, pressão alta e câncer, entre outros. Importante ressaltar que tais efeitos colaterais provocam apenas sensações parecidas com sintomas de depressão, podendo em alguns casos desencadear o processo depressivo.

- Fatores genéticos: Sabe-se que pessoas que têm parentes em primeiro grau (pai, mãe, irmãos ou avós) com histórico de depressão, têm maior probabilidade de apresentar o problema. Filhos de pai ou mãe com depressão têm três vezes mais chances de apresentar a doença do que pessoas sem histórico na família. Os índices aumentam quando o pai e a mãe sofrem do transtorno. Existem teorias que explicam tal situação em função das relações interpessoais do grupo familiar, considerando o ambiente como o fator de maior relevância. Entretanto, pesquisas feitas com gêmeos e adotados confirmam a existência de uma predisposição genética. Gêmeos idênticos foram comparados com gêmeos fraternos em relação à depressão e os resultados revelaram que a probabilidade de os gêmeos fraternos compartilharem a doença é de aproximadamente 20%, enquanto nos gêmeos idênticos, o índice sobe para algo em torno de 60%. Outros estudos abordaram pessoas adotadas e apresentaram evidências de que aquelas que tinham pais biológicos com histórico de depressão tinham mais chances de desenvolver o transtorno do que aquelas que tinham pais biológicos sem histórico de depressão.

CAUSAS PSICOLÓGICAS

- Perdas: Em 1917, Sigmund Freud, pai da psicanálise, observou a relação existente entre aspectos inconscientes do sentimento de perda e a gênese da depressão, denominada, na época, melancolia. Vale ressaltar que o conceito atual de perda é abrangente, envolvendo diversas situações como a perda do sentido existencial; de entes queridos; de identidade; de objetos, pessoas ou situações que sustentavam ilusoriamente a auto-estima; que afetam as funções do ego (adaptativas), como visão, memória, audição e autonomia; do amor materno, resultando em sentimentos de abandono, rejeição e desamparo; entre outras.

- Culpa: O sentimento de culpa é um elemento freqüentemente observado nos casos de depressão. Esse sentimento pode ter origens diversas. Entre elas, destacam-se conflitos provocados pela dissonância entre sentimentos e dogmas religiosos; a sensação de ter frustrado as expectativas daqueles a quem ama e por quem espera ser amado; a ideia de ser incapaz de fazer reparações em relação a situações provocadas e vistas como negativas.

- Cognições negativas: Os conhecimentos sobre a influência dos pensamentos nos comportamentos e sentimentos humanos já tiveram a contribuição de inúmeros pesquisadores e são, atualmente, a base de muitas teorias sobre auto-ajuda. Alguns estudos revelam que os cognições negativas podem provocar ou ajudar a prolongar a duração do quadro depressivo. Dentro dessa concepção, a depressão envolve pensamentos negativos a respeito de si, do mundo e do futuro. Tais concepções são desenvolvidas desde a infância, através das relações afetivas e das informações que a criança capta do mundo que a cerca, interferindo na formação de sua identidade, sua auto-imagem, sua auto-estima, suas relações interpessoais e na sua expectativa, otimista ou não, em relação ao futuro.

- Raiva: Entre as manifestações emocionais freqüentemente relacionadas com os quadros de depressão, a que mais se destaca é a raiva. Fruto das situações de frustração, esta reação, que é inerente à natureza humana, é muitas vezes reprimida ou não encontra manifestação adequada e, assim, recai contra a própria pessoa na forma de depressão. Este sentimento é também observado nos três itens anteriores, pois as perdas e os conceitos negativos geram frustração e a culpa acarreta raiva de si mesmo. Isso faz com que a raiva contida esteja sempre presente nos quadros depressivos determinados emocionalmente.

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